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O computador n?o ensina nada sozinho

Apesar de a tecnologia da inform?tica estar cada vez mais presente nas salas de aula, o computador n?o substitui o professor. ? preciso um esfor?o conjunto entre professor, escola e fam?lia

Quarta-feira, 17 de março de 2010


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Não há como a escola negar a existência do computador e da internet e ensinar apenas à moda antiga. Sites de pesquisa, redes sociais e softwares fazem parte do processo de socialização dos alunos tanto quanto os livros e a televisão. Se é impossível virar as costas para a tecnologia, como tirar proveito dela a favor da educação? A pergunta pode parecer simples, mas é uma preocupação constante entre pesquisadores e professores. “O computador é apenas mais uma ferramenta. O livro didático, o dicionário e a lousa devem continuar sendo usados”, diz Maria Cristina Lindstron, professora de História do Colégio Dom Bosco.

Um professor que há dez anos utilizava quadro negro, livro e vídeo para dar aula, agora tem de inserir o computador nesse processo. “Para articular todo esse aparato, ele tem de aprender a fazer a relação entre todas essas tecnologias de uma maneira coerente”, afirma Glaucia da Silva Brito, pesquisadora e professora do departamento de comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O computador não ensina nada sozinho, assim como a presença ou não de um laboratório de informática não quer dizer muita coisa sobre a qualidade do ensino de uma escola. Por outro lado, um bom planejamento faz, sim, a diferença. “A questão não está na ferramenta usada, mas na metodologia de ensino. Pouco adianta usar o computador em sala seguindo a metodologia tradicional, como uma ferramenta para fazer apenas cópia de textos, por exemplo. Isso se faz na sala de aula, com lápis e caderno”, complementa.

Ensinar professores

Para dar uma aula multimídia é preciso estar familiarizado com as várias tecnologias. É difícil encontrar alguém que nunca navegou na internet, mas, entre ser usuário e enxergar um potencial pedagógico no computador, há uma grande diferença. “Nossos alunos chegam ligados em tudo, dominam a ferramenta. Quase sempre o professor não tem esse mesmo conhecimento”, diz Vera Lúcia Cas­teleins, professora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Os recém-formados em licenciaturas saem da universidade com em média três semestres de disciplinas que exploram as novas tecnologias. Essa formação, no entanto, é recente. A maior dúvida é sobre o que fazer com os profissionais que estão há anos no mercado e que não têm a mínima familiaridade com o computador. “É preciso haver projetos de formação continuada. O professor tem de se atualizar sempre. Falta muito para a tecnologia fazer parte do seu dia a dia.”

É um longo caminho e os resultados não são perceptíveis a curto prazo. Existem iniciativas públicas e particulares de formação de professores, mesmo assim, não é fácil fazer com que a técnica se transforme em saber pedagógico. Há outros pontos que pesam contra a inclusão positiva da tecnologia em sala de aula e que não dizem respeito à dificuldade de acesso. Acontece hoje que nem sempre a tecnologia é vista com bom olhos pelos docentes. “Muitos professores são resistentes a mudanças. Há cinco anos era muito pior. Com o suporte pedagógico, com os cursos que oferecemos, isso vem melhorando aos poucos”, afirma Ricardo Beck, coordenador de Informática do Colégio Positivo.

Para a professora Maria Cristina, que trabalha com o computador em sala de aula, os alunos estão em vantagem, mas não é impossível alcançá-los. “A tecnologia veio para mim no contexto profissional. Para os mais jovens ela é parte da vida. Mas é preciso que o professor se atualize e seja efetivamente um gestor dessas experiências, um coordenador desses processos.”

Primeiros passos

Uma maneira que as escolas encontraram para desmistificar os avanços tecnológicos e estimular o uso dos computadores e da internet entre os docentes tem sido a criação de portais de informação e conhecimento. Quem é da rede estadual, por exemplo, é praticamente obrigado a visitar o site da Secretaria Estadual de Educação do Paraná (SEED). “Colocamos o contracheque desse professor no site, sua rotina, as possibilidades de crescer na carreira, cursos. É uma forma de criar o hábito de consultar a internet”, explica Elizabete dos Santos, diretora de tecnologias educacionais da SEED.

As instituições particulares também têm seus próprios portais e tanto professores quanto alunos têm de acessar para realizar tarefas rotineiras, como fazer exercícios. Além disso, essas escolas costumam ter uma assistência tecnológica personalizada. “Há cursos não obrigatórios e bem específicos sobre o uso de determinados equipamentos ou sites. O próprio professor pode pedir esse curso ou receber auxílio para elaborar uma aula com a nova ferramenta”, diz Ricardo Beck.

Afinal, faz diferença?

As possibilidades são infinitas: fazer pesquisas simultâneas às aulas, praticar o conteúdo em softwares interativos, estimular a produção em diferentes mídias – como pequenos filmes ou histórias em quadrinhos –, criar blogs e planilha de dados. “O ambiente virtual multiplica a capacidade de inclusão. Aquilo que no livro didático seria uma nota de rodapé pode ser ampliado ao infinito no meio digital”, descreve Maria Cristina Lindstron, professora de História do Colégio Dom Bosco.

Essas novas linguagens permitem um aprofundamento maior nos temas e uma multiplicidade de opiniões – não só a do professor e a do livro didático. “Em Geografia os alunos podem ver mapas por satélite, em Matemática podem fazer cálculos e visualizar figuras. Há museus para serem visitados virtualmente nas aulas de arte. Todas as disciplinas ganham com o uso do computador e de suas ferramentas”, afirma Beck.

As vantagens não ficam só dentro dos muros da escola. Leonardo Bresolin, 15 anos, saiu de Cascavel para estudar em Curitiba e morar sozinho. A escolha do colégio foi influenciada pela possibilidade de o pai do adolescente poder acompanhar a educação do filho mesmo de longe. “A escola tem um portal em que eu posso dar opinião, ver as notas, as matérias e as frequências dele. É uma forma de eu monitorar e de me sentir mais presente na sua educação”, diz Daniel Roberto Galafassi, pai de Leonardo. Além de acesso a informações, é no portal que o menino faz as lições de casa e estuda, em média, quatro horas diárias.

O bom uso da internet

As possibilidades da rede são infinitas e é justamente por isso que muitos pais e professores ainda têm receio quanto a inclusão dos computadores em sala de aula. Como garantir que os alunos estão efetivamente pesquisando, e não conversando on-line durante os execícios? A maioria das escolas bloqueia o acesso a sites e programas que não têm relação com os objetivos daquela aula. Mas o tema é motivo de debate entre educadores. Proibir sites e mediar pesquisas a partir de portais é uma forma segura de trabalhar dentro da escola, mas não evita que os alunos se dispersem se a atividade não for interessante.

“Existe o mesmo risco das outras tecnologias. Não tinha aquele aluno que lia revista em quadrinhos em vez do livro? É a mesma coisa. Acho mais importante se preocupar com um projeto pedagógico atraente do que com o bloqueio de informações”, diz Iolanda Bueno de Camar­go Cortelazzo, coordenadora de pesquisa e iniciação científica da Universidade Tuiuti do Paraná.

Para Iolanda, cabe à escola o papel de ensinar o uso consciente da tecnologia, assim como a leitura crítica de informações disponíveis na rede. “A instituição tem de trabalhar essa conscientização. O professor, quando faz um bom uso do computador e gerencia corretamente este recurso, percebe o potencial pedagógico e cultural da tecnologia e prepara o aluno para responder aos desafios escolhendo bem os sites, vídeos e músicas que respondem melhor as suas questões.”

 

Fonte: Juliana Vines

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